sábado, 29 de outubro de 2011


"[...]Há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo. Pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada com uma alma intensa, violenta, atormentada. Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê!"

Florbela Espanca

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Canção desse rumor.



Quem - estando ausente - entra no quarto,
quem deita ao meu lado,
quem passa no meu coração seus lábios quentes,
quem desperta em mim as feras todas,
quem me rasga e cura,
quem me atrai?

Quem murmurava na treva e acende estrelas,
quem me leva em marés de sono e riso,
quem invade meu dia após a noite,
quem vem - estando ausente -
e nunca vai?

Lya Luft

sábado, 3 de setembro de 2011

Um dia o circo acaba.

Pinto a cara com a mais brilhante das tintas
para esconder minhas muitas sombras.
Uso uma roupa bem espalhafatosa
para me proteger do medo e da solidão.
E torço para que este nariz vermelho
tão redondo e engraçado
faça o público perdoar minha feiura.

Se faço contorcionismos impossíveis,
se me sujo, tropeço, escorrego
ou bato em mim mesmo com um martelo de brinquedo
não é apenas para fazer rir.
É para acalmar dores muito antigas.
Pois só no picadeiro eu sei fingir
que não sou covarde demais para os saltos dos trapezistas
ou que não sou uma parasita
sugando gargalhadas pra se manter de pé.

E espero que em algum momento
entre o aplauso e o fechar das cortinas,
eu consiga ser feliz.

José Calazans.
ps: estou apaixonada por palhaços.

domingo, 21 de agosto de 2011

Lágrimas vivas.



"Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto."

Martha Medeiros

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



Uma borboleta pousou no corrimão bem ao meu alcance.
Prendi-a pelas asas mas tremeu que soltei-a.
Saiu voando buleversada como se tivesse ficado cem anos presa.
Nos meus dedos, o pó prateado.
Tão breve tudo.
Prendi assim a alegria, ainda há pouco foi minha mas se debateu tanto que abri os dedos antes que se ferisse, não se pode forçar.
Um pouco mais que se aperte e não fica só o pó, mas a alma.
Entro na minha concha.

TELLES. Lygia Fagundes, 1923 - As meninas.

quinta-feira, 28 de julho de 2011


Quando ela se foi, deixando-o sozinho,
chamou o jardineiro e mandou cortar a enorme mangueira do quintal,
que todos os anos cobria o chão com seus frutos.
Depois chamou o pedreiro e mandou destelhar a casa.
Chamou os vizinhos e deu-lhes todos os móveis, menos um.
No quarto vazio, onde agora chovia, fazia sol e breve começariam a nascer musgos,
começou então a viver sua vida de anacoreta,
esmerando-se em ocupar, de braços e pernas abertas, todos o espaço da cama de casal.

COLASANTI. Marina,
Contos de amor rasgados.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O amor é teu para dar.


"Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. 'Amor é estado de graça e com amor não se paga'. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que 'amor com amor se paga'. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo."

Rubem Alves

domingo, 30 de janeiro de 2011


''Sim, eu sei.
Pode parecer maluquice,
mas eu vou mesmo desparafusá-las
e arremessá-las no jardim.
Mesmo que elas não possam voar,
ficarão entre as flores,
o devido lugar de borboletas paralíticas.
Não suporto mais essa idéia de abrir a janela,
levantar os vidros e vê-las ali,
disfarçadas de dobradiças."

Rita Apoena

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


"Aos que de alguma forma, vendem sonhos, por meio de sua inteligência, crítica, sensibilidade, generosidade, amabilidade. Os vendedores de sonhos, são freqüentemente estranhos no ninho social. São anormais. Pois o normal é chafurdar na lama do individualismo, do egocentrismo, do personalismo. Aos que acreditam em sonhos, o seu legado será inesquecível."

[Augusto Cury - O Vendedor de Sonhos]

sábado, 15 de janeiro de 2011

Pedacinho.


Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso.
Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura.
Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista.
Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez.
Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.

[Caio F. Abreu]

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011




"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."
Fernando Pessoa

domingo, 2 de janeiro de 2011

Cólera.


Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."
Clarice Lispector