"O vaso quebrou. Você, sem querer ou querendo, esbarrou no vaso e ele
tombou no chão, se partindo em pedacinhos. Mas eu gostava tanto daquele
vaso, mas tanto, que na esperança de tê-lo de volta me pus a catar os
cacos espalhados pelo chão e colá-los um a um. Você até que me ajudou.
Comprou uma tinta para cobrir o vaso na esperança de disfarçar as
remendas. Mas de nada adiantou. Depois de pronto lá
estava o meu vaso, que já não era mais meu - eu já não o reconhecia
mais. Mas meu apego àquele vaso era tão grande que eu ainda insisti, por
algum tempo, em deixá-lo na sala, no seu lugar de sempre, na mesa de
centro. O tempo foi passando e ele foi se enchendo de poeira. Limpei-o
algumas vezes, mas depois, o que antes era uma satisfação pra mim,
limpar o vaso, meu vaso tão querido, se tornou uma tarefa cansativa
porque ele já não respondia mais ao meu apelo, já não brilhava mais. Foi
então que me dei conta de que não fazia mais sentindo deixá-lo ali, no
melhor lugar da sala. Talvez a tinta que você comprou fosse vagabunda
demais, talvez esse vaso que você me deu fosse, apesar de bonito, frágil
demais. Ou talvez eu, na minha pieguice, tenha depositado todas as
minhas expectativas no pobre do vaso. Não consegui me desfazer do vaso
porque, por de trás daquela tinta, ainda viam-se vestígios da pintura
original que tanto me encantara um dia. Mas tirei o vaso da sala, da
mesa de centro, embrulhei-o num jornal velho e guardei no fundo do
armário, no mesmo lugar onde guardo meus brinquedos favoritos de quando
menina, meus rabiscos, cartas pra mamãe, papai, vovó... Um lugar que
quando mexo me dá alergia, mas que eu gosto de lembrar. O mais engraçado
é que na última vez que você esteve aqui, você nem reparou que o vaso
já não estava mais lá no seu lugar. Você nem deu falta do vaso, o vaso
que você me dera. O vaso que eu julgara ser importante pra você também.
Não era. Ou não é mais. Então, lá estará ele a partir de agora, no meu
depósito de lembranças."
Thaysa.
Thaysa.